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O PC está morto!

O ano era 1995. Estava em uma banca de revistas atrás dos últimos números das minhas revistas de informática favoritas (lembrem-se, este era um tempo onde pouquíssimas pessoas tinham acesso à Internet no Brasil, e eu não era um destes felizardos - pretendo futuramente fazer um post sobre a era "pré Internet") e me deparo com a capa da finada Byte Magazine, se não me falha a memória, que estampava a seguinte frase:
"O PC está morto! Conheça algumas tecnologias que irão substituí-lo"

Lançado em 1976, o Apple I foi o primeiro computador realmente pessoal do mundo - obra do gênio Steve Wozniak

Pois bem. A publicação argumentava que os PCs estariam fadados a um declínio irreversível dentro de alguns anos e que novas tecnologias de computação móvel tomariam o seu lugar. A revista até acertou em relação ao surgimento de dispositivos móveis, mas talvez tenha sido fatalista demais ao apontar o fim do PC de forma tão prematura. E isto foi em 1995, ou seja, já se especulava que os PCs estariam mortos há 19 anos atrás (isto em fevereiro de 2014, quando escrevo este texto) e até hoje eles continuam firmes, fortes e desejados. Neste simples texto, pretendo colocar as minhas opiniões pessoais pelas quais o nosso querido e simpático PC ficará entre nós por um bom tempo ainda. Vamos lá!

O declínio nas vendas de PCs

Muitos profetas do apocalipse não se cansam de apontar os seguidos anos nos quais há queda na venda de PCs como uma razão para a sua morte iminente. Eu digo sempre que olhar apenas números sem um contexto é perigoso, e devemos levar em consideração alguns pontos:

  • Estes números refletem apenas as vendas dos grandes fabricantes e não levam em consideração aqueles que compram micros montados por pequenos integradores ou ainda aqueles que montam o seu próprio PC (o chamado mercado do it yourself - faça você mesmo). A cultura do "faça você mesmo" é muito forte nos EUA e em vários países europeus, eu mesmo jamais tive um PC "de marca", sempre preferi montar os meus próprios equipamentos. Cada vez mais pessoas estão deixando de comprar PCs de grandes fabricantes devido à falta de uma total possibilidade de personalização, e não é raro PCs "de marca" virem montados com componentes de qualidade duvidosa; 
  • O estágio atual de hardware e software atingiu uma tal maturidade que os ciclos de trocas completas de máquina não acontecem mais com a mesma velocidade de antes. Computadores de sete ou oito anos atrás ainda são capazes de rodar satisfatoriamente os sistemas operacionais e boa parte dos softwares atuais; 
  • Em decorrência do exposto no item anterior, cada vez mais pessoas estão aderindo à prática do upgrade parcial ao invés de uma troca completa de máquina, com foco na utilização do PC. Exemplo: se o PC é mais utilizado para jogos, na maioria dos casos basta trocar apenas a placa de vídeo para uma grande melhora de desempenho. É só observar: grandes fabricantes de componentes para o mercado "faça você mesmo", como Asus, Gigabyte, MSI, entre muitos outros, vêm registrando lucros consideráveis nos últimos anos.

Também obra do grande Wozniak, o Apple II foi o primeiro computador pessoal largamente utilizado do mundo

Capacidade computacional

Não se engane: aquele smartphone de 3000 dilmas possui menor capacidade computacional do que um PC básico de cinco anos atrás que custou um terço deste valor, principalmente em armazenamento de dados. Muitos devem se perguntar se há uma real necessidade, atualmente, de tanta capacidade assim. Isto nos leva ao próximo tópico.

O IBM PC original iniciou a criação de um padrão aberto para os computadores pessoais

Criação de conteúdo

Sabe aquele site ou serviço que você adora acessar do seu tablet ou smartphone? Certeza absoluta que ele foi feito com a ajuda de um PC (ou vários deles). Uma maior capacidade computacional é necessária para criar conteúdo. Atividades como programação, edição de vídeos e imagens, renderização de cenas, CAD e criação de ambientes 3D são alguns exemplos disso. Mesmo um simples blog como este requer certas capacidades que vão além das disponíveis na maioria esmagadora dos dispositivos móveis (exceto talvez os notebooks) - quem já tentou digitar um texto longo sem um teclado físico sabe a tortura que é. Os PCs continuarão por muitos anos ainda como os equipamentos mais adequados para criar conteúdo, afinal das contas, aquele smartphone de 3 mil reais seria um tanto quanto inútil se não houvesse conteúdo disponível.

O Macintosh revolucionou o conceito dos computadores pessoais com o uso de uma interface gráfica

Sob medida para qualquer necessidade

O PC possui uma flexibilidade sem comparação para lidar com qualquer tipo de finalidade, podendo ser completamente personalizado para tanto. Uma placa de vídeo de 500 reais (isto na data em que escrevo, fevereiro de 2014) pode transformar o pacato computador da família em uma máquina de jogos superior a qualquer videogame de última geração que custa consideravelmente mais. Um HTPC pode levar uma simples TV a um novo nível de interatividade, sendo atualmente a melhor escolha para montar um sistema de home theater. Não há outro dispositivo que se aproxime deste nível de personalização.

Convivência harmoniosa

Em face do que foi disposto, é líquido e certo que os computadores pessoais continuarão entre nós por décadas ainda, sendo capazes de ter uma convivência harmoniosa com quaisquer tipos de dispositivos que existam ou que venham a existir. Da mesma forma que os notebooks não acabaram com os desktops (como foi especulado há décadas atrás), não serão os tablets e smartphones que irão fazê-lo, afinal das contas, eles necessitam do conteúdo que só os PCs podem fazer. Na pior das hipóteses, o PC se transformará em um equipamento de nicho para todos aqueles que quiserem desfrutar de uma maior flexibilidade, recursos e capacidade computacional.

Veja também:
Segundo analista do IDC, vendas de PCs devem se equilibrar em 2018
Vendas de tablets tem a primeira queda desde 2010

Comentários

  1. Concordo plenamente com sua argumentação e diria que o PC e os notebooks para os geeks, entusiastas, desenvolvedores, e pessoal em geral da área jamais vai deixer de ser fabricado, virando apenas um nicho para os "hardcores", o povo casual vai ficar com tablets, smarthphones para simplesmente acessar conteúdo, sem jamais gerar tecnologia, essa sim vinda de notebooks e PCS.Aafinal quem programa em um tablet ou em um smarthphone é milagreiro, ou santo, jamais me vejo fazendo isso =), inclusive estou agora acessando de um bom e velho notebook.

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    1. Realmente, para desenvolvedor é só PC e notebook mesmo! Na minha opinião, quem programa em tablet além de milagreiro é masoquista também! :-)

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