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Uma palavrinha sobre a pirataria de software

Um estudo feito pelo IDC em 2013 a pedido da associação BSA, que concentra empresas de software de todo o mundo, revelou que metade dos softwares instalados em PCs brasileiros é pirata. Em 2011 (o estudo é feito a cada dois anos) o índice era de 53%, enquanto que o índice mundial de pirataria é de 43%. Entretanto, justiça seja feita: entre os países emergentes o Brasil foi o que apresentou o menor índice, além de também ter sido o único a apresentar queda no índice entre os estudos de 2011 e 2013.

Atualizado em 04/06/2018.


Sempre quis escrever algo sobre a pirataria de software e esta notícia foi o gancho (sem trocadilho.... rs) perfeito para isto. Primeiramente, até mesmo por ser Bacharel em Ciência da Computação e trabalhar com desenvolvimento e manutenção de softwares, sou radicalmente contra a pirataria, começando pelo quintal da minha casa: todos os softwares que utilizo nos meus equipamentos foram obtidos legalmente.

Segundo, defendo a meritocracia e que todo profissional possa usufruir dos louros do seu trabalho, o que no caso dos softwares pode vir tanto pelo modelo comercial (cujo maior expoente é a Microsoft), pelo publicitário e de serviços (Google) ou mesmo pelo modelo do software livre iniciado por Richard Stallman e impulsionado por Linus Torvalds com o Linux. Certa vez, ainda nos anos 1990, quando questionado se a exposição atingida devido ao Linux o incomodava, Torvalds respondeu:

"É claro que não. Afinal, se não fosse a fama atingida com o Linux eu jamais teria conseguido obter o emprego que tenho agora"


Quando se utiliza um software pirata toda uma cadeia de benefícios é quebrada: o desenvolvedor não é recompensado, o mercado gera menos postos de trabalho do que poderia oferecer, o governo arrecada menos (o que em países desenvolvidos é revertido em benefícios para toda a comunidade) e até mesmo quem faz uso destes softwares irregularmente será prejudicado, primeiramente por não poder contar com o suporte do fabricante, sem falar que muitas vezes aquele "inofensivo" crack baixado de um servidor russo utilizado para burlar temporariamente o sistema de ativação do software traz surpresas desagradáveis, os famosos malwares.

Mas não sou hipócrita: sei que muitas vezes é difícil para uma pequena e iniciante empresa de projetos arcar com uma licença do AutoCAD que bate na casa dos 10 mil reais, apenas para citar um exemplo. É aí que entra toda uma questão de dimensionamento de preços e o custo Brasil, principalmente quando se trata de produtoras de software estrangeiras: estas dificilmente tem como antecipar quanto o seu software custará em mercados mesquinhos como o brasileiro, onde o governo e toda uma cadeia de atravessadores (tais como importadores, despachantes, distribuidores...) são ávidos pelas suas generosas fatias do bolo. 

Além do mais, como citei no artigo sobre a Reserva de Mercado de Informática que vigorou no Brasil de 1984 até 1991, a pirataria de software no país chega a ser um fenômeno cultural, herança das restrições impostas pela supracitada Lei. Porém também este quadro dá mostras de estar cedendo: segundo o estudo do IDC, o índice de softwares piratas no Brasil era de 57% em 2007.

Alguns produtores até se preocupam com esta triste realidade de muitos mercados emergentes. Cito como exemplo a Microsoft: apesar do valor normalmente praticado pelo Windows não ser exatamente barato em comparação com o salário mínimo brasileiro, a empresa possui alguns produtos voltados para tais mercados, como o Windows Small Business Server e o Visual Studio Community, além de ações pontuais: por exemplo, no lançamento do Windows 8 (até como uma forma de promover a nova versão) o sistema era oferecido por 69 reais. Com um preço desse, não há desculpa para utilizar um pirata... e quem comprou fez um ótimo negócio, visto que o sistema pode ser atualizado gratuitamente para o Windows 10.  E tudo isso por 69 reais - este é um claro exemplo de que também as empresas de software podem dar a sua contribuição.

Por fim, deixo algumas dicas para aqueles que tenham interesse em legalizar o seu parque de softwares, sejam pessoas físicas ou jurídicas:

  • No caso de grandes empresas é melhor entrar em contato direto com o produtor do software. Normalmente são concedidos generosos descontos em licenciamentos de grande volume, além de ainda contar com suporte técnico muitas vezes personalizado;
  • Para pequenas e médias empresas, verifique se o fabricante não possua algum plano de assinatura ou de parceria (por exemplo, a Microsoft possui os programas Partner e a assinatura MSDN, esta última voltada para desenvolvedores de software), que na maioria dos casos é muito mais barato do que adquirir as licenças separadamente;
  • Autônomos e profissionais liberais podem ainda contar com versões mais em conta ou mesmo free de certos produtos. Por exemplo, para um programador autônomo o Visual Studio Community pode ser suficiente;
  • Usuários domésticos podem utilizar as versões dos softwares que vieram pré-instaladas nos equipamentos (no caso de PCs "de marca" e notebooks), além das seguintes alternativas:
    • Geralmente as mídias físicas apresentam um custo maior por dependerem de toda uma cadeia de logística de transporte e os impostos que incidem neste processo. Obter a licença diretamente do fabricante pela Internet e o software via download na maioria esmagadora dos casos é bem mais barato;
    • Há sites especializados em venda de software on-line com preços bem interessantes, como exemplo cito o ótimo Siliconaction do qual sou cliente costumaz, além de ainda poder parcelar no cartão;
    • Sempre há também a possibilidade de utilizar softwares gratuitos ou livres. Posso citar um exemplo próprio: para o meu uso o Gimp é plenamente suficiente para editar imagens, logo não tenho necessidade de adquirir o custoso Photoshop. Outro exemplo são as distribuições Linux voltadas ao usuário final como o Ubuntu e derivados.

Comentários

  1. filosofando um pouco.. normalmente não se vê pirataria = roubo pq software é abstrato e é culturalmente aceitável que não seja pago. Acho que um cidadão "comum" está muito longe desse pensamento de recompensar o trabalho do desenvolvedor. Até por isso são muito poucas as empresas que aparecem no Brasil tipo as startups que aparecem no vale do silicio. Talvez o panorama comece a melhorar um pouco com as apps móveis e as app stores normalmente com preços mais acessiveis.

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    1. Interessante ponto de vista! Realmente os que não são de TI geralmente tem dificuldades de mensurar o pagamento de algo que não é físico, além de toda a cultura oriunda da Reserva de Mercado. Quanto às startups, concordo plenamente, além de ainda ter uma grave carência em incentivos governamentais por aqui.

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  2. Sobre o assunto eu sou radicalmente contra pirataria, creio que é uma forma de roubo, e aqui se difundiu tão bem e de uma forma tão normal, que virou cultural ter software pirata, as pessoas nem pensam nas desvantagens, que bom que o quadro está mudando, mas ainda entramos naquela máxima, sempre estão querendo tirar vantagem de qualquer forma possível e imaginável dos outros. Sobre startups a Microsoft já pensando nisso, tem um programa interessantíssimo na Dreamspark, que disponibiliza as isos dos SOS, Visual Studuio e até Sql Server sem custo nenhum, com uma duração de até 4 anos, achei fantástico, vem a calhar para mostrar como eles estão com a mentalidade mudada, daquela de capitalistas da década de 90.

    Não existe desculpa mesmo hoje para se ter software pirara, o que acontece é que até hoje em dia se cobra para formatar e os técnicos colocam um Windows pirata e mandam você não atualizar as correções? Pode isso Arnaldo? Já até discuti com um que isso é uma prática abusiva e que ele está se queimando profissionalmente, mas eles fazem vistas grossas e não estão nem ai. Na verdade é comodo para eles, eles só querem ganhar dinheiro mesmo. Esse raciocínio segue em todas as empresas prestadoras de serviço de informática no nosso pais, seja produtora de software ou não. Para mudar isso como mencionei anteriormente, precisamos mudar a cultura e mostrar como é complexo fazer, se escrever um software, seja qual ele for, que não é qualquer doutor de esquina é bom nisso. Precisamos que o desgoverno faça uma ampla reforma tributária auxiliando e incentivando assim as pessoas a comprarem o software original, bem como mostrando as vantagens de se ter o software original. A inclusão digital, tão linda veio, porém sem a explicação e a educação descente como deveria ter sido feita. Eu realmente espero que a coisa mude, e que possamos daqui a um tempo comprar softwares originais e com garantia por um preço mais em conta e justo para nossa realidade, não perdi a esperança ainda.

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    1. Concordo com cada linha! Principalmente sobre o segundo parágrafo, estes técnicos pé-de-chinelo conseguem queimar o filme de toda uma classe de profissionais! Quando eu era autônomo cansei de ouvir a seguinte resposta quando fazia um orçamento de software ou manutenção: "mas o fulano da esquina faz por menos da metade!'. Eu respondia: "então faça com ele!". E ainda não eram raras as vezes que eu era chamado para arrumar a caca feita pelo "técnico da esquina", ocasião que eu ainda cobrava um adicional pelo trabalho extra.

      E pensar que o projeto de lei para a criação do CREI (Conselho Regional de Informática) está mofando em alguma gaveta em Brasília há quase vinte anos...

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  3. Ola amigos, um técnico que dá munutenção em um PC que já tem o software pirata, ele esta compactuando com a irregularidade, ou o fato de estar dando apenas uma manutenção no PC, não se caracteriza crime do técnico?

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    1. Se o técnico fornece equipamentos com software pirata aos clientes está cometendo crime. Agora se apenas "conserta" um Windows pirata, somente para citar um exemplo, a meu ver não é algo irregular, muito embora eu não seja advogado.

      Durante muitos anos trabalhei com manutenção de PCs e quando detectava algo assim resolvia o problema porém notificava o cliente sobre a situação, muitas vezes até por escrito. Com certeza há inúmeros profissionais que instalam softwares piratas e tacam o foda-se, mas não podemos utilizar isto como desculpa, como é moda entre os nossos nobres representantes em Brasília.

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