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Montando um arranjo 3-Way SLI (Parte 3 - Verdades e Mitos)

Sempre que pesquisa-se sobre arranjos 3-Way SLI em fóruns nacionais e estrangeiros, quase invariavelmente as respostas são as mesmas, mudando apenas o idioma: vai ter que se matar atrás de profiles! O consumo de eletricidade e o nível de ruído vão para a estratosfera! Vai precisar de um caríssimo monitor de 144 Hz para valer a pena! Não escalam (este mito foi desvendado na segunda parte desta série)! É necessário gastar uma fortuna (mostrado na primeira parte)! Pois bem, nesta terceira parte deste especial vou desvendar alguns destes mitos e ver se os mesmos são verdadeiros ou não. Vale a pena conferir!

EDIT 03/10/2015: adicionada imagem com um exemplo de screen tearing.
EDIT 06/10/2015: adicionada imagem com um exemplo da utilização da memória de vídeo.


Mito – Os Profiles

Ok, não sou um jogador que pode ser considerado hardcore, mas tenho uma coleção respeitável de jogos no Steam, alguns no Origin e tantos outros em mídia física. No total devo ter uns 150 títulos. Da minha coleção apenas um deles, dentre os títulos modernos, tive que configurar na unha (leia-se: criar um profile) para utilizar as três GPUs: o Sniper Elite Nazi Zombie Army 2 (o novo Zombie Army Trilogy roda liso que nem bunda de nenê). Porém como veremos isto está longe de ser um bicho de múltiplas cabeças.

Logo ao abrir o jogo era possível ver que algo estava errado, a baixa taxa de quadros por segundo era visivelmente perceptível. Ativando os sensores do EVGA PrecisionX foi possível confirmar que apenas uma placa de vídeo estava sendo utilizada – uma das GPUs estava com 99% de uso enquanto que as outras mantinham meros 5%:

Somente uma GPU em uso (clique para ampliar)

Criar um profile é muito simples. Entre no painel de controle dos drivers da Nvidia e acesse as configurações 3D. Selecione a aba Configurações de programa e clique no botão Adicionar.


Na lista exibida, procure pelo executável do jogo. Caso ele não esteja clique no botão para localizá-lo e finalmente no botão para adicionar o programa selecionado.


Sim para continuar.


Com o jogo selecionado, podemos explorar as configurações. Para o nosso caso a mais importante delas é o item modo de renderização SLI e aqui a opção que melhor funcionou foi a mostrada na figura abaixo (“3-GPU Alternate frame rendering 2”). Porém sinta-se livre para testar outras configurações, afinal das contas cada PC é único.


Problema resolvido! Agora as três GPUs estão em plena carga e o desempenho melhorou vertiginosamente (clique para ampliar):

Linda cena de um zumbi levando um headshot

Com mais musculatura disponível é possível aumentar o nível de detalhes mantendo uma boa taxa de quadros por segundo:

"Tudo no talo!"

Reparem que o V-Sync está desligado – isto nos leva para o próximo mito.

Mito - A Frequência de Atualização do Monitor

O meu monitor principal é um LG 29MA73D de 29” Ultrawide (2560 X 1080) que oficialmente é um produto de 60 Hz mas que suporta numa boa um “overclock” para 75 Hz. Como não me considero um jogador hardcore, para mim 75 fps estão de bom tamanho (até 60 seriam suficientes) e desta forma sempre ajusto os meus jogos para rodar o mais próximo possível dos 75 fps (para evitar o indesejável fenômeno do screen tearing), utilizando as três GTX 760 para obter a melhor qualidade possível dentro desta taxa de quadros. Isto me permite desfrutar dos jogos quase sempre com os ajustes no máximo ou muito próximo, como demonstrado nas imagens do supracitado título Sniper Elite Nazi Zombie Army 2. 

Outro detalhe: para evitar perdas artificiais de performance mantenho sempre o V-Sync desligado.

Jogando a 2560 X 1080 com “tudo no talo” a 77 fps: as imagens ficam lindas e com ótimo conforto visual (clique para ampliar)

Somente deixo o V-Sync ligado em jogos antigos, como o Battlefield 3 que peguei de graça no Origin, onde mesmo com todos os ajustes de qualidade do máximo o sistema despeja uma taxa de quadros por segundo muito superior à que o meu monitor suporta e ocorre o screen tearing: a tela mostra um novo quadro antes de terminar a exibição do quadro anterior, ficando na mesma uma “quebra” com os dois quadros misturados e grande desconforto visual.

Exemplo de screen tearing (vide a seta)

BF3 com todos os ajustes de qualidade no máximo rodando a 125 fps, muito acima do que o meu monitor suporta

Aqui com o V-Sync ativado

Sem dúvida que monitores de 120 e 144 Hz são melhores, mas será que a ponto de compensar o seu alto custo? A resposta a esta pergunta depende de cada um, aqui somente mostrei que é perfeitamente possível ser feliz mesmo com monitores tradicionais em conjunto com um arranjo 3-Way SLI.

Verdade Parcial – Memória de Vídeo

Esta é uma das principais teclas que os detratores do SLI e Crossfire sempre batem: desperdício de memória de vídeo, pois cada GPU do arranjo tem que ter uma cópia das imagens renderizadas na sua própria VRAM. Por exemplo: cada uma das minhas três GTX 760 conta com 2 GB de VRAM, e o arranjo final fica também com 2 GB. Em um primeiro momento realmente parece um desperdício, mas até hoje jamais vi algum jogo que utilize mais do que 60% da VRAM de cada GPU (medido pelo EVGA PrecisionX - vide os screenshots), isto em 2560 X 1080 e, como mostrado nos exemplos acima do Zombie Army 2, com o AF em 16:1 e o Supersampling em 4x, recursos que são verdadeiros devoradores de VRAM.


Detalhe ampliado da imagem acima. Mesmo com "tudo no talo",
a utilização da memória de vídeo (FB usage) mal chega a 50%

Talvez o gamer (rico) que jogue em dois monitores 4K seja o único que realmente necessite de mais de 2 GB de VRAM atualmente.

Verdade Parcial – Nível de Ruído

O vídeo abaixo mostra o ruído gerado pelos fans das três GTX 760 em plena carga:


Cabem aqui algumas considerações. Cada uma das duas Gigabyte Windforce contém três ventoinhas, enquanto que a MSI TwinFrozr possui duas delas: desta forma, temos nada menos do que oito ventoinhas em plena carga! A filmagem foi feita com a tampa lateral do gabinete Corsair Carbide Air 540 removida – com o gabinete fechado, o ruído é praticamente imperceptível. 

De fato o ruído aumenta, mas nada que um gabinete com boa isolação acústica não resolva, sem falar que há coolers de CPU a ar que conseguem ser ainda mais barulhentos. Tudo muito é relativo.

Verdade – Consumo Elétrico e Dissipação de Potência

Para chegar à conclusão exposta neste tópico, fiz o seguinte exercício: calculei a dissipação de potência do meu sistema variando somente a(s) placa(s) de vídeo, o qual possui a seguinte configuração básica (confira aqui mais detalhes):


Aproveitei também para simular como seria a dissipação de potência do meu sistema com outras GPUs hipotéticas. Eis os resultados:

Dissipação de potência (W)

Aqui quanto menor melhor

Ao adicionar placas de vídeo a dissipação de potência vai subindo paulatinamente. Três GTX 760 dissipam 70% a mais de potência do que uma única, 91% a mais em relação a uma 980 e 57% a mais do que as 980 Ti. Embora sejam valores respeitáveis, não chegam nem perto de ser o triplo; curiosamente, a diferença de dissipação de potência é muito semelhante à diferença de performance, como vimos na segunda parte deste especial.

Para ser possível visualizar o que esta dissipação de potência representa no meu bolso a converti para kWh (Kilowatt-hora), que é a unidade de cobrança adotada pelas empresas distribuidoras de energia elétrica. Para tanto, considerei um cenário de utilização do PC de 8 horas diárias por 20 dias, o que resulta em 160 horas mensais. Eis os números:

Consumo de energia elétrica (kWh)

Da mesma forma, aqui quanto menor melhor

Logicamente que as diferenças apuradas na dissipação de potência se mantiveram. Para saber o valor exato (em R$) que certa configuração pesará no seu bolso toda vez que a conta de luz chegar, basta calcular a potência dissipada pela mesma, efetuar a conversão para kWh conforme o tempo de utilização do equipamento (há diversos conversores online de W para kWh - o Google é seu amigo) e finalmente multiplicar o valor obtido pelo custo do kWh praticado pela empresa distribuidora de energia que lhe atende, conforme a categoria da sua ligação.

Conclusão

Sem dúvida que um 3-Way SLI passa muito longe da perfeição, mas também não é este demônio todo que é pintado nos fóruns por aí – muitos dos seus problemas foram resolvidos ou vem sendo amenizados a cada nova versão dos drivers. Ouso dizer que atualmente é uma opção bastante válida para entusiastas, pois pode custar menos do que uma única placa de vídeo mais parruda e oferecer um melhor desempenho. Em muitos casos esta diferença é tão grande que pode até tornar compensador investir um pouco mais em uma placa mãe compatível e se necessário em uma fonte de alimentação com potência e corrente suficientes para sustentar o conjunto.

O seu grande ponto negativo é o aumento da dissipação de potência e consumo elétrico, mas reclamar disto é o mesmo caso do camarada que troca o seu carro 1.0 por outro com motor maior e fica reclamando do consumo de combustível, algo sem muito sentido.

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