Nesta nova série de postagens montarei um PC com o melhor (e absurdamente caro) que havia em termos de hardware no ano de 1996. Sigam-me os bons! 😎
O ano de 1996 foi muito bom para mim. Finalmente eu havia deixado o modorrento e exasperante ensino médio e ingressado na faculdade de Ciência da Computação aos 17 anos recém completados. Logo de cara já peguei as cadeiras de Algoritmos, na qual usamos a linguagem Turbo Pascal 6.0 para os estudos práticos (tenho pena dos estudantes de CC de hoje em dia que não saem da mesmice, somente usando Java) e Cálculo Diferencial e Integral I, que me fizeram quase ter uma calvície precoce e me questionar se era isso mesmo que eu queria para a vida. Mas felizmente segui firme e cá estou eu, beirando os 40 anos e escrevendo para vocês esta postagem em uma insone madrugada.
O mercado de hardware na época fervilhava com o lançamento do Pentium Pro e da revolucionária arquitetura P6, que dizia-se ser a arquitetura do futuro no presente. Neste ponto os escritores de tecnologia da época tinham razão, pois pode-se dizer que grande parte dos conceitos desta arquitetura estão está hoje presentes em todos os processadores modernos: o Pentium Pro é o tataravô dos Core i7.
Neste ano eu tinha um 80486 DX4 de 100 MHz (que reconstruí na série Rebuild #1) e babava horrores no Pentium Pro, o problema era o preço: o modelo de 150 MHz custava US$ 974, o de 180 MHz saía por US$ 1075 e a versão de 200 MHz custava nada menos do que 1225 verdinhas! Se até hoje ainda é um montante considerável, imaginem em 1996? 😱
Sem falar que o Pentium Pro tinha um “probleminha”: o inovador recurso de renomeação de registradores fora de ordem causava uma perda de performance em aplicações de 16 bits, assim para tirar todo o proveito deste processador era necessário utilizar um sistema operacional verdadeiramente de 32 bits (como o Windows NT, o OS/2 e as distribuições Linux da época), além de aplicações de 32 bits nativas. Como o sistema operacional mais popular de então era o Windows 95, um sistema híbrido de 32 e 16 bits, sem falar que muitos ainda usavam o MS-DOS e o Windows 3.X, o Pentium Pro foi um processador mais utilizado em aplicações científicas e corporativas. No Pentium II a Intel resolveu esse problema.
Mas chega de papo e vamos à demonstração dos componentes!
Processador – Intel Pentium Pro de 200 MHz
O meu exemplar do Pentium Pro tem as seguintes características:
- Microarquitetura Intel P6;
- Frequência de operação interna de 200 MHz;
- Frequência do barramento frontal de 66 MHz e multiplicador 3;
- 16 KB de cache L1 (8 KB de dados e 8 KB de instruções);
- 256 KB de cache L2 integrado no mesmo encapsulamento, acessado na mesma frequência interna do processador (também houveram modelos do Pentium Pro com 512 KB e mesmo 1 MB de L2, porém eram muito mais caros);
- Coprocessador aritmético integrado;
- Tensão de alimentação de 3,3 V;
- Litografia de 0,35 μm;
- Soquete 8;
- Custo de US$ 1.225 em 1996.
Placa-mãe – Soyo 6FA
As características desta placa são as seguintes:
- Soquete 8;
- Chipset Intel 440FX;
- Quatro slots para módulos de memória SIMM de 72 vias com chips BEDO, EDO ou FPM;
- Um slot para módulos DIMM de 168 vias (módulos com chips SDR SDRAM não são suportados pelo chipset 440FX);
- Quatro slots PCI de 32 bits e 33 MHz;
- Quatro slots ISA de 16 bits;
- Duas portas IDE PIO4 controladas pelo chip ponte-sul Intel 82371SB (22 MB/s);
- Uma porta para unidade de disquete;
- Formato ATX (em 1996!).
Como não houveram processadores Pentium Pro acima dos 200 MHz, esta também é a frequência máxima desta placa. Assim, sem chance de overclock. Vale lembrar que recentemente tive que trocar dois capacitores desta Soyo.
Em destaque o módulo regulador de tensão e os conectores do painel traseiro, da esquerda para a direita:
- Serial;
- PS/2 para teclado;
- PS/2 para mouse;
- Paralelo;
- Serial.
Não consegui encontrar o valor de mercado da época desta placa-mãe especificamente, porém pelo que pesquisei, as placas soquete 8 custavam algo em torno dos 400~500 dólares.
RAM – 48 MB EDO em módulos SIMM-72
São dois módulos de 16 MB e dois de 8 MB, com temporização de 70 ns. Assim como no Pentium, o barramento externo do Pentium Pro é de 64 bits e os módulos SIMM devem ser usados em pares.
Vale lembrar que, em 1996, 32 MB de RAM eram artigo de luxo (neste mesmo ano eu aumentei a RAM do meu 486 de 8 para 16 MB, a duras penas). Cada MB de memória custava no final do ano cerca de US$ 6, assim temos aqui 288 verdinhas.
Placa de vídeo 2D – Matrox Millennium de 4 MB PCI
Simplesmente a melhor placa de vídeo 2D da época, tanto de desempenho quanto em qualidade de imagem – eram as preferidas dos profissionais de CAD e dos que faziam trabalhos com imagens e ilustrações no PC. As características deste exemplar são as seguintes:
- Chip gráfico MGA-2064W-R2 rodando a 50 MHz;
- 4 MB de memória de vídeo SGRAM rodando a 50 MHz e interface de 64 bits (largura de banda de 400 MB/s);
- Litografia de 0,35 μm;
- Resolução máxima de 1280 X 1024 a 85 Hz;
- RAMDAC rodando a 220 MHz;
- Suporte ao DirectX 2.0;
- Custo de US$ 549 em 1996.
As duas grandes fileiras de contados em volta dos chips de memória são para a instalação da daughterboard Impression, que acrescenta mais VRAM e aumenta o poder computacional da placa, pois também contém um chip que acelera algumas funções 3D. Uma Impression hoje em dia é uma mosca albina de olhos azuis.
Ao lado da saída DB15 (VGA) padrão, há um conector proprietário da Matrox:
Placa de vídeo 3D – 3dfx Voodoo de 4 MB PCI (Diamond Monster 3D)
Não se engane com o ano de 1997 escrito no PCB: a placa Monster 3D foi fabricada neste ano, porém o chip Voodoo foi lançado no final do ano anterior, sendo considerado o primeiro acelerador 3D verdadeiro disponível aos PCs. As especificações desta placa são as seguintes:
- Chip gráfico 3dfx Voodoo rodando a 50 MHz;
- 4 MB de memória EDO rodando a 50 MHz e interface de 128 bits (largura de banda de 800 MB/s);
- Litografia de 0,50 μm;
- Resolução máxima em 3D de 640 X 480 a 85 Hz;
- RAMDAC rodando a 135 MHz;
- Suporte ao DirectX 5.0, Glide e OpenGL (parcial);
- Custo de US$ 299 no início de 1997.
Placa de som – Creative Sound Blaster AWE 64 ISA
Com 512 KB de RAM, suporte a até 64 instrumentos MIDI simultâneos e relação sinal/ruído de 90 dB, era a placa de som topo de linha em 1996, quando custava US$ 230.
Placa de rede – NE2000 compatível ISA
Eram as mais comuns na época, com velocidade de 10 Mbps. Os conectores são RJ-45 e BNC.
A placa traz a configuração dos jumpers no próprio PCB, no lado das soldas. Bem que todas as placas ISA poderiam ser assim, com certeza a nossa vida seria muito facilitada!
Disco rígido – Seagate Medalist de 4,3 GB IDE
As suas características são as seguintes:
- Capacidade de 4,3 GB;
- Rotação de 4500 RPM;
- Cache de 128 KB;
- Tempo de busca de 12 ms;
- Interface IDE UDMA2 (33 MB/s).
Os primeiros discos de 4,3 GB surgiram no final de 1996. Não consegui achar o preço deste Seagate em particular, porém conforme encontrei em alguns fóruns antigos os discos desta capacidade chegavam facilmente aos 300 dólares na época.
Unidade óptica – Creative 32X mx IDE
É realmente difícil encontrar unidades ópticas antigas funcionando - assim este é um componente que não é de 1996, sendo “um pouco” mais novo: é de 1998. 😛
Esta unidade é da época em que o reinado da Creative nos drives ópticos começou a acabar, visto que ela passou a colocar a sua marca em unidades OEM de vários outros fabricantes, com diferentes níveis de qualidade. Este drive na verdade é fabricado pela Matsushita, porém no período também era comum encontrarmos drives "Creative" fabricados pela Panasonic, Mitsumi e até mesmo a conceituada Plextor. Era uma loteria.
Fonte de alimentação – genérica de “300 W”
Como a placa-mãe é ATX achei que valia a pena também usar uma fonte ATX, claro que depois de devidamente testada. A vantagem de usar uma fonte de antes da especificação ATX 2.0 é que estas oferecem mais corrente e potência na linha de 5 V, a mais usada em PCs antigos.
Sistema operacional #1 – Windows NT 4.0 Workstation SP6A
Puramente de 32 bits, de modo a liberar todo o desempenho do Pentium Pro tendo em vista o seu problema com aplicações de 16 bits. Foi lançado no ano de 1996.
Sistema operacional #2 – Windows 95 OSR 2.5
Como o NT 4.0 tem várias questões de compatibilidade com softwares, sempre é bom deixar o Windows 9X em dual-boot.
A única licença de período que tomei nos softwares foi quanto aos pacotes de atualizações, que garantem mais estabilidade e compatibilidade com aplicativos, além de menos bugs. O Service Pack 6A do Windows NT 4.0 foi lançado em 2001, enquanto que a atualização OSR 2.5 (OEM Service Release) do Windows 95 foi lançada em 1997.
Confiram na próxima postagem a montagem dessa maravilha! 😉
Finalmente chegou o dia tão esperado por mim, o Pentium Pro!. Estou achando que estes pentes de memória diferentes podem te dar problema. Pelo menos um par tem que ser indêntico. No mais, ficará um baita PC Clássico.
ResponderExcluirAté o momento os pentes estão funcionando bem. Eram os módulos SIMM-72 EDO de maior capacidade que eu tinha disponível. :-)
ExcluirPost bacana, onde você conseguiu todos os componentes? Comecei a usar PC nessa época, tinha um AMD 586 se não me falhe a memória, nostalgia pura!! Bons tempos...
ResponderExcluirA placa-mãe e o processador achei em um dia do descarte na minha empresa, seriam descartados como lixo eletrônico. Muita sorte!
ExcluirAs placas de vídeo comprei no ML e os demais componentes eu já tinha aqui.
Hehe, meu sonho sempre é achar essas velharias maravilhosas em alguma loja a preço de banana, mas o fato é que meu Pentium Pro me custou 145 euros (asus+200MHz+64edo) o que por si só já foi uma facada uns dois anos atrás, agora imaginem como me senti quando fui taxado em 100% na alfândega! :-P
ResponderExcluirRapaz, até mesmo hardware "velho" está ficando cada vez mais caro. Foi muita sorte ter achado essas componentes no "lixo"!
ExcluirOlá Michael. Estou à espera de receber uma motherboard igual a essa Soyo. O problema é que não tem o VRM que encaixa no socket do VRM ao lado do socket do CPU. Por acaso, tem possibilidades de me ajudar com a identificação desse mesmo módulo VRM, através de fotos e part numbers? Tenho receio de não conseguir utilizar a board por não ter esse módulo. Achas que é possível utilizar a máquina sem esse VRM? Saudações portuguesas
ResponderExcluirSaudações brasileiras!
ExcluirNo VRM da placa não encontrei mais informações, como o part number.
Sem o módulo VRM instalado o mais provável é que a placa nem ligue. E, sinceramente, encontrar apenas o VRM que seja compatível com a placa vai ser algo bem difícil, acredito que seja mais fácil achar outra placa soquete 8 que esteja completa e funcionando.
Parece que o módulo VRM é standard. Eram vendidos ao que parece, juntamente com os Pentium Pro. Basicamente há módulos da Raytheon, VXI entre outras marcas. Conheço uma pessoa que tem um módulo.
ExcluirFinalmente tenho esta mesma motherboard a funcionar. Foi alvo de recap completo. Estavam em mau estado. Foi feita a modificação do Odin com socket CR2032 ao lado do Odin e por sorte esse meu amigo que fez o recap, tinha o VRM compatível. Aproveitei e comprei o CPU. Ele tinha um PPro 200MHz de 256kb de parte. Adoro esta plataforma. Tem enorme potêncial em performance se bem configurada.
ResponderExcluirMuito bom! 👏
ExcluirO único problema dela é que não deteta placas de som ISA de maneira nenhuma. Testei todos os slots ISA. Já testei a AWE64, uma ESS 1868F e uma Yamaha. São todas PnP e nenhuma delas deteta no arranque nem no hardware manager do Windows 98. A fonte de alimentação tem linha de -5V. Alguma sugestão?
ExcluirBom dia. Precisava de ajuda na identificação de alguns dos condensadores de tantalum. Alguma possibilidade de me dar as especificações de alguns dos condensadores originais? Estou com problemas de voltagens em alguns pinos dos slot ISA após ter sido alvo de troca de condensadores. Agradecia imenso a ajuda, tendo em conta que queria mesmo montar este computador. Já gastei demasiado dinheiro nele e adora que ele funcionasse bem, por ser um projeto que sempre quis ter. Obrigado
ResponderExcluir