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O Mecanismo (Segunda temporada)

Na segunda temporada da série sobre a operação Lava Jato, o diretor José Padilha tentou agradar a esquerda e derrapou feio. Confira aqui as minhas impressões.


Que José Padilha tem uma “quedinha” pelo socialismo eu já sabia, mas sempre procuro separar a pessoa (e as suas convicções políticas) da obra, tanto que para mim as suas produções como os filmes Tropa de Elite, a série Narcos e mesmo a primeira temporada de O Mecanismo são obras de qualidade inegável, o que infelizmente mudou aqui.

Enquanto que a primeira temporada é um convite a muitas reflexões e não poupa ninguém, na segunda Padilha descaradamente abraça um dos lados (no caso, o PT), o que fez a narrativa se tornar mais um manifesto político que repete muitos mantras dos partidos de esquerda. Um exemplo é como o impeachment da “presidenta” Janete (Dilma, interpretada por Sura Berditchevsky) é tratado: as pedaladas fiscais não seriam um motivo justo para o processo, pois todo mundo “também rouba”. Já não nos cansamos de ouvir isto?

Outro exemplo é como a investigação do ex-presidente Higino (Lula, interpretado por Arthur Kohl) é mostrada: um “homem que fez pelo Brasil o que ninguém mais fez” (isso é citado em um dos episódios, acredite!) não poderia ser preso sem provas, sem nada no nome dele. E que a condução coercitiva e a divulgação do “tchau querida” seriam um absurdo. Até parece que estamos em uma manifestação do Lula Livre! 

Tecnicamente a produção também tem algumas falhas, principalmente de continuidade: enquanto que na primeira temporada existia o PO (Partido Operário, que seria o PT), na segunda é citado o próprio PT. Também na primeira temporada havia a Polícia Federativa, enquanto que na segunda são citados tanto a Polícia Federativa quanto a Polícia Federal. Da mesma forma, na primeira tinha a PetroBrasil enquanto que na segunda também é citada a Petrobras.

Em termos de história, ela continua exatamente onde parou: Marco Ruffo (Selton Mello) segue a sua caçada ao doleiro Roberto Ibrahim (inspirado em Alberto Youssef, interpretado por Enrique Diaz), enquanto que o empreiteiro Ricardo Brecht (Marcelo Odebrecht, interpretado por Emilio Orciollo Netto) é preso. Há o processo de impeachment da “presidenta” Janete e o início das investigações sobre o ex-presidente Higino, após a delação do empreiteiro Tom Carvalho sobre as reformas do sítio e do tríplex (Léo Pinheiro, interpretado por Carlos Meceni).

Ricardo Brecht

Há uma incessante tentativa de minimizar a culpabilidade do PT e transferir a maior parte ao PMDB do vice-presidente Samuel Thames (Michel Temer, interpretado por Phil Miller) e do deputado Carlos Penha (Eduardo Cunha, interpretado por Augusto Madeira), e ao PSDB do senador Lúcio Lemes (Aécio Neves, interpretado por Michel Bercovitch). Longe de mim de querer defender estes cidadãos cuja culpabilidade é inequívoca, o problema é novamente a repetição de uma já surrada narrativa: que a culpa é sempre dos outros e que eles nunca sabiam de nada. Ouvimos isso desde o mensalão.

Samuel Thames

Ao abandonar a imparcialidade e claramente se enfileirar em um dos lados, Padilha fez aqui a sua pior produção, tanto em termos de narrativa quanto em aspectos técnicos. E parece que a própria Netflix também não gostou muito, pois até o momento em que escrevo ainda não garantiu que haverá uma terceira temporada, o que é incomum.

Mas há algo que se salva: a abertura é muito bem-feita. 


Comentários

  1. As pedaladas fiscais entram num contexto de incompetência econômica brutal. O país jogou fora a década de 2010 por causa disso. Quem pariu a "nova matriz econômica" PRECISA ser responsabilizado.

    Sobre isso, quando suspeito que estou sendo engambelado pela oratória do Ciro Gomes, assisto às palestas do Marcos Lisboa.

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    1. Pois é. O patético é ver os petistas colocarem a culpa dos problemas econômicos do país em um governo que está há seis meses no cargo, sendo que estamos colhendo os resultados de quatro péssimas gestões do PT.

      O Lula surfou na alta das commodities e faz a farra do crédito farto (similar à bolha imobiliária americana que estourou em 2008, logicamente que em uma escala menor): conheço gente que ganhava 2 mil por mês e acumulava carnês da casa, do carro e da TV de 60" na qual assistiu o 7 X 1. Isso não tinha como dar certo.

      A bomba estourou no colo da Dilma, que se mostrou completamente inapta (assim como o Mantega) e cujas ações só fizeram aumentar a inflação, além de criar uma defasagem de preços (uma inflação adormecida) quando artificialmente congelou os preços dos combustíveis e da energia elétrica. No segundo mandato tentou consertar e trouxe o Joaquim Levy, que foi impedido de "trabalhar" de pediu o boné - o Paulo Guedes já disse que fará o mesmo caso a reforma da Previdência não for aprovada.

      Temer, por incrível que pareça, faz mais para recuperar a economia em dois anos do que a Dilma em seis, muito embora foi bastante boicotado pelo congresso covarde, o mesmo que ocorre agora com o Bolsonaro. É difícil sorrir no Brasil.

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